As células estaminais são recolhidas do sangue e tecido do cordão umbilical minutos depois do nascimento, por profissionais de saúde e a pedido dos país. Este que é um material biológico, que de outra forma seria descartado, mas que quando recolhido e armazenado por profissionais tem demonstrado um enorme potencial terapêutico na medicina personalizada e regenerativa, fazendo já parte do tratamento de 80 doenças.
Andreia Gomes, diretora de laboratório e investigação da Bebé Vida, um dos poucos laboratórios portugueses para a criopreservação de células estaminais, explica que as células estaminais, sendo células indiferenciadas mediante um estímulo podem especializar-se em vários tipos de células e, por isso, abrem portas “para que possamos ter possibilidades terapêuticas em várias patologias, relativamente às células estaminais do tecido do cordão umbilical, elas são atualmente utilizadas em ensaios clínicos, em inúmeros ensaios clínicos, em diversas patologias”.
Apesar do potencial e versatilidade destas células, a sua não especialização é controversa na área da oncologia “porque estas células são não especializadas e em contacto com a célula tumoral elas podem ficar especializadas em tumor e nós não queremos isso”, explica a investigadora.
A mais recente investigação portuguesa sobre células estaminais, desenvolvida pelo laboratório português e pelo Centro de Investigação em Saúde Translacional e Biotecnologia Médica da Escola Superior de Saúde do Politécnico do Porto (TBIO) tentou fazer frente a este desafio e conseguiu resultados promissores nos efeitos terapêuticos destas células no melanoma: “as células exercem os seus efeitos de várias formas, pode ser de contacto, de célula com célula, ou então através de fatores, que elas próprias produzam e libertem. (…) Foi isso, analisar o secretoma destes fatores que são produzidos e libertados por estas células do cordão umbilical, nas células do melanoma, isto elimina completamente o risco de haver essa especialização em célula cancerígena”, explica Andreia Gomes.
Os resultados foram promissores, uma vez que se verificou que as células estaminais do cordão umbilical “que tem a capacidade de, de certa forma, parar a proliferação da célula. Ou seja, ”nós verificámos que elas se dividiam cada vez menos, morriam mais e analisando os ciclos celulares, o processo através do qual as células se dividem, elas se reproduziam menos”, acrescenta Pedro Coelho, investigador do TBIO.
Em Portugal, os dados do registo oncológico mostram que a taxa de incidência do melanoma está a aumentar e apesar de ainda ser o cancro menos frequente, com incidência inferior a 7%, é o mais agressivo, responsável por 75% das mortes por cancro de pele. A aposta na investigação tem permitido diversificar os tratamentos de um cancro que se torna resistente às terapias clássicas: “Recentemente, têm sido desenvolvidos novos tratamento, novas imunoterapias para além da quimioterapia clássica, no entanto essas terapias falham, uma vez que a fim de algum tempo, de uns meses de tratamento adquirem resistência ao novos fármacos. Nas últimas décadas tem-se assistido a uma melhoria na sobrevida dos pacientes come melanoma avançado, no entanto nós ainda não temos uma terapia muito eficaz. O tratamento do melanoma é a cirurgia, daí a deteção precoce do melanoma ser tão importante”, diz Pedro Coelho.
Os próximos passos desta investigação passam por um aumento da complexidade do estudo com ensaios in vivo, ou seja, que simulem um organismo. Ainda assim, apesar dos avanços na medicina, a prevenção é a chave e no caso do melanoma, passa por cuidados redobrados na exposição solar.