O uso de mini órgãos ou organóides na medicina está a evoluir bastante. Estes têm a vantagem do rápido desenvolvimento, não comprometem a ética ou as leis como algumas pesquisas em embriões e permitem que a medicina seja personalizada. Mas agora um estudo publicado na Nature deu um passo mais além: desenvolveu um minicérebro com células de diferentes pessoas.
As novas criações híbridas, que os autores do estudo liderados por Paola Arlotta, da Universidade de Harvard, chamaram de “quimeroides”, são uma variação dos organóides cerebrais: pequenos modelos 3D feitos de tecido que imitam a estrutura e a função de um cérebro em tamanho real. Esses modelos são mais precisos para a biologia humana do que modelos de células 2D ou animais, como ratos de laboratório. Isto aceleraria a pesquisa e o desenvolvimento de medicamentos personalizados.
Os organóides cerebrais são normalmente cultivados a partir de células retiradas de um único dador. Isto significa que não conseguem captar a variabilidade genética que existe entre as pessoas, o que pode afetar o desenvolvimento cerebral dos indivíduos e as suas respostas aos medicamentos. A criação de quimeroides poderia superar esse obstáculo. A equipa de Arlotta já tinha cultivado antes células cerebrais a partir de células estaminais de diferentes pessoas, mas esta é a primeira vez que modelos 3D do cérebro foram cultivados dessa maneira.
Para fazer os quimeroides, os autores colheram células estaminais de cinco pessoas e depois utilizaram produtos químicos indutores de crescimento em laboratório para transformá-las em organóides cerebrais, cada uma contendo células de uma única pessoa. Os cientistas então separaram os organoides resultantes e recombinaram as células dentro deles para formar quimeroides. Isto garantiu que cada quimeroide continha o mesmo número de células derivadas de cada pessoa.
Após três meses, os quimeroides tinham cerca de 3 a 5 milímetros de diâmetro e continham os mesmos tipos de células normalmente encontradas no córtex (a camada mais externa do cérebro) de um feto. Além disso, a equipa expôs os quimeroides a dois produtos químicos neurotóxicos: o etanol, que está associado a distúrbios do espectro alcoólico fetal, e o medicamento antiepiléptico ácido valpróico, que pode aumentar o risco de defeitos congénitos, descobrindo que as células provenientes de diferentes dadores respondiam de maneira diferente a esses medicamentos, em termos da profundidade com que os produtos químicos impediam o seu crescimento, por exemplo.
Se expandidos para conter células de ainda mais pessoas, os quimeroides poderiam, em teoria, ajudar a determinar como os pacientes responderão aos medicamentos antes de serem testados num ensaio clínico. Estes poderiam então ser segregados em grupos específicos de resposta ao tratamento.
“A capacidade de cultivar células de diferentes dadores dentro do mesmo organóide abre a porta para oportunidades interessantes para investigar em escala e de forma mais controlada as respostas das células cerebrais de muitos indivíduos diferentes a muitos tipos diferentes de estímulos, desde mutações genéticas, infeções, drogas, etc… as possibilidades são infinitas – conclui Arlotta – O que aconteceria se um dia pudéssemos usar quimeroides como avatares para prever respostas individuais a novas terapias antes de testá-las num ensaio? Ou classificar e diagnosticar melhor os pacientes para adaptar terapias mais eficazes? Francamente, gosto de imaginar esse futuro.”
Fonte: https://www.larazon.es/ciencia/crean-cerebros-frankenstein_202407056687deca301df70001f09cef.html