Conhecido como o “novo paciente de Berlim”, um alemão de 60 anos recebeu tratamento para a leucemia e não apresenta vestígios do vírus da SIDA/VIH há 6 anos. Ele é a sétima pessoa a conseguir este tipo de remissão em todo o mundo.
Um alemão de 60 anos, conhecido como “o novo paciente de Berlim”, para proteger a sua identidade, não tem nenhum vestígio do Vírus da Imunodeficiência Humana (VIH) depois de receber um transplante de células estaminais e parar de tomar medicamentos antirretrovirais em 2018, anunciou a equipa do Hospital Charité em Berlim.
O homem, que havia sido diagnosticado com leucemia, recebeu um transplante de medula óssea em 2015. Em comunicado, o centro médico alemão indicou que o transplante de células estaminais só é viável para pacientes que “para além da infeção pelo VIH, também sofrem de certos tipos de cancro do sangue ou dos gânglios linfáticos e para os quais esse cancro não pode ser apenas controlado com radiação ou quimioterapia”.
“Nesse procedimento, células estaminais de um dador saudável são transferidas para o paciente, substituindo o seu sistema imunitário. Assim, tanto o cancro quanto o vírus da SIDA são combatidos. Até agora, acreditava-se que era necessário encontrar um dador com características genéticas muito específicas para realizar este transplante”, acrescentam os investigadores.
Segundo investigadores alemães, este é o sétimo caso no mundo de uma pessoa com remissão do vírus após vários anos sem tratamento antirretroviral.
O termo “novo paciente de Berlim” refere-se ao primeiro “paciente de Berlim”, Timothy Ray Brown, a primeira pessoa a registar uma carga viral de VIH indetetável em 2008, que morreu de cancro em 2020.
A presidente da Sociedade Internacional da SIDA, Sharon Lewin, disse que os investigadores são cautelosos ao utilizar a palavra “cura” porque não está claro quanto tempo é necessário para acompanhar estes casos. “Mais de cinco anos de remissão significa que o homem estaria perto de ser considerado curado”, afirmou Lewin em entrevista.
O “novo paciente de Berlim”
O homem de 60 anos foi diagnosticado com VIH em 2009 e recebeu um transplante de medula óssea em 2015 para tratar a leucemia mielóide aguda. Uma equipa especializada em hematologia, oncologia e imunologia tumoral do hospital de Berlim determinou que, devido ao perfil de risco do paciente, era necessário um transplante de células estaminais além da quimioterapia.
Desde o final de 2018, o homem parou de tomar medicamentos antirretrovirais e, quase seis anos depois, parece estar livre do VIH e do cancro, afirmaram os investigadores: “O caso do paciente é indicativo de uma cura do VIH”, afirmou Christian Gaebler, pesquisador e médico do Hospital Universitário Charité, em Berlim, onde o paciente é tratado.
Um avanço promissor, mas limitado
“As opções de tratamento para a infeção pelo VIH avançaram muito; com um bom tratamento, as pessoas afetadas podem agora levar uma vida normal. No entanto, a infeção pelo VIH não é considerada curável (normalmente). Em casos extremamente raros, um transplante de células estaminais conseguiu eliminar o vírus VIH do corpo”, explicou em comunicado o Hospital Charité de Berlim.
O tratamento utilizado para tratar este paciente alemão é o mesmo que tem sido utilizado em outros casos de remissão do VIH, como o do paciente original de Berlim, Timothy Ray Brown, que foi a primeira pessoa declarada curada da SIDA em 2008.
A maioria dos pacientes que alcançaram a remissão duradoura do VIH receberam células estaminais de dadores com uma mutação rara no gene CCR5, que impede o vírus de entrar nas células do corpo. Porém, neste novo caso, o paciente recebeu células estaminais de um dador que possuía apenas uma cópia do gene mutado, ao contrário dos anteriores que possuíam as duas cópias.
Cerca de 15% das pessoas de origem europeia têm uma cópia mutada do gene CCR5, em comparação com um por cento que tem ambos. Os investigadores esperam que este último sucesso aumente o número de potenciais dadores no futuro e abra novas possibilidades para a terapia genética do VIH.
A presidente da Sociedade Internacional da SIDA, Sharon Lewin, disse que este caso é “promissor” para a procura por uma cura deste vírus que funcione para todos os pacientes. “Isto sugere que não é realmente necessário remover todos os fragmentos do CCR5 para que a terapia genética funcione”, explicou.
O paciente de Genebra, é outra exceção entre os sete casos de remissão. Este paciente recebeu um transplante de um dador sem qualquer mutação no CCR5, mas ainda assim obteve remissão a longo prazo. Este facto demonstrou que a eficácia do procedimento não se deveu apenas ao gene CCR5.
Ainda não está claro por que razão o transplante de células estaminais eliminou o vírus no caso do segundo paciente de Berlim, enquanto que em alguns casos comparáveis o vírus se multiplicou novamente.
Os investigadores estão a considerar vários fatores potenciais. “A velocidade com que o novo sistema imunitário substitui o antigo pode desempenhar um papel importante”, diz Christian Gaebler.
“No segundo paciente de Berlim, isso foi concluído de forma relativamente rápida, em menos de 30 dias. Talvez o sistema imunitário do dador também tenha propriedades especiais, tais como células assassinas naturais particularmente ativas, que garantem que mesmo os níveis mais baixos de atividade do VIH sejam reconhecidos e eliminados”, disse Gaebler.