Uma equipa de pesquisadores do Instituto de Oncologia da Universidade de Oviedo (IUOPA), do Instituto de Pesquisa em Leucemia Josep Carreras, da Universidade de Barcelona e do Centro de Pesquisa Biomédica da Rede de Cancro (CIBERONC) conseguiu demonstrar que algumas leucemias infantis se originam durante o desenvolvimento embrionário, embora só se manifestem depois de alguns meses de vida, explica a Universidade de Oviedo num comunicado de imprensa. O estudo foi publicado na revista ‘Leukemia’, com máximo impacto na sua área de conhecimento. A leucemia mielóide aguda é o segundo tipo de leucemia mais comum na infância e pode ser diagnosticada com alguns meses de idade. O aparecimento tão precoce da doença levantou suspeitas de que o tumor pudesse ter origem pré-natal. A demonstração desta teoria foi, no entanto, limitada pela possibilidade de se ter uma amostra pré-natal ou no momento do parto.
“A possibilidade de estudar a origem desta leucemia surgiu do caso de um bebé de 5 meses que foi diagnosticado com leucemia mielóide aguda no Hospital Niño Jesús de Madrid”, explica Pablo Menéndez, professor do ICREA da Universidade de Barcelona e Instituto Josep Carreras. “Os pais, que conservaram o sangue do cordão umbilical, abriram uma linha de investigação que até agora não tinha sido possível abordar”, acrescenta este investigador.
O estudo revelou que uma translocação entre os cromossomos 7 e 12 já estava presente em algumas células estaminais hematopoiéticas do cordão umbilical. Por outro lado, a outra alteração cromossómica, uma trissomia do cromossoma 19, não estava presente no feto, mas estava presente em todas as células tumorais, sugerindo que contribui para aumentar a malignidade das células leucémicas. “Estes dados são de grande relevância para compreender o desenvolvimento de uma doença que é devastadora, e a existência desta amostra de cordão umbilical foi crucial para poder realizar um estudo que até agora era impossível nas leucemias mielóides agudas”, acrescenta Talía Velasco, pesquisador do Instituto Josep Carreras e da Universidade de Barcelona.
Além de reconstruir as alterações genómicas que as células sofrem para dar origem a essa leucemia, o estudo também identificou um mecanismo molecular que até ao momento não havia sido observado nesse tipo de leucemia e que provoca a ativação de um gene, denominado MNX1, frequentemente alterado neste tipo de tumores.
O conhecimento destas alterações é essencial para podermos desenvolver modelos celulares e animais que nos permitam compreender a evolução da doença e poder desenvolver novas terapias para o tratamento deste tipo de patologia.