Vladomir, que sofreu uma encefalopatia hipóxico-isquémica (HIE) ao nascer e perdeu a visão, foi tratado com células estaminais do sangue e tecido do cordão umbilical do seu irmão recém-nascido.
Em 2008, a mãe ucraniana Yuliya de Dnipro deu à luz gémeos com 32 semanas de gestação. As crianças, Elizaveta e Vladomir, nasceram por cesariana e cada uma pesava um pouco mais de três quilos. A menina desenvolveu-se de forma saudável e ativa, contudo, o seu irmão Vladomir, que sofreu uma encefalopatia hipóxico-isquémica (HIE) ao nascer, foi diagnosticado com uma atrofia parcial do nervo ótico em ambos os olhos, perdendo a visão. O menino apresentava ainda pequenas convulsões e deficientes capacidades motoras.
Nos primeiros anos, os pais focaram-se em tomar conta dos gémeos, mas com o passar do tempo sentiram que a família precisava de outro bebé. Em Maio de 2019, Yuliya deu à luz um menino saudável. O sangue e tecido do seu cordão umbilical foram enviados para o banco Hemafund em Kiev imediatamente após o nascimento. No momento do parto, foram recolhidos apenas 28 ml de sangue mas este era altamente compatível com Vladomir. O tecido foi processado e criopreservado.
Em Julho de 2019, Vladomir recebeu o transplante de sangue do cordão umbilical do seu irmão mais novo. Seis meses mais tarde, 60 milhões de células estaminais mesenquimais (MSC), provenientes do tecido umbilical, foram administrados por três vias simultâneas: infusão intravenosa, injeção intratecal (no canal espinal) e injeção retrobulbar (por detrás da oclusão do nervo óptico). Nos Estados Unidos, ensaios clínicos aprovados pela FDA demonstraram que as injeções de MSC no olho podem restaurar a visão a pacientes com condições oftalmológicas consideradas “intratáveis”, tais como a atrofia do nervo ótico 8,9.
Resultados
Para além de não terem sido observadas reações adversas ao tratamento, as análises médicas, um ano depois do início da terapia, demostraram melhorias notáveis.
- O eletroencefalograma de base (EEG) do cérebro de Vladomir, que tinha inicialmente indicado sinais de atividade convulsiva, mostrou que estes desapareceram.
- As capacidades motoras e a coordenação foram melhoradas. Vladomir é agora ativo no desporto: joga futebol, luta livre e anda de bicicleta.
- Antes do tratamento, a acuidade visual de Vladomir era de 0,02 (na escala de Snellen) em ambos os olhos. Após o tratamento, a sua visão melhorou para 0,15 no olho esquerdo e para 0,20 no olho direito. O menino frequenta agora uma escola regular, visto que consegue ler até à segunda linha de um quadro ocular.
- Vladomir subiu recentemente a Hoverla, a montanha mais alta dos Cárpatos.
A encefalopatia hipóxico-isquémica (HIE)
Ocorre quando um bebé sofre de privação de oxigénio ao nascer. Estas crianças são posteriormente diagnosticadas como tendo Paralisia Cerebral. A incidência de HIE varia entre 1,5 a 10 por 1000 nascimentos, dependendo da qualidade dos cuidados de saúde no país onde o bebé nasce.
A lesão HIE original desencadeia uma cascata de danos cerebrais que podem levar à epilepsia, atrofia do nervo ótico, problemas respiratórios, ou hidrocefalia. As únicas modalidades terapêuticas que demonstraram beneficiar crianças com HIE são a hipotermia terapêutica (arrefecimento), se aplicada imediatamente após o nascimento, ou a terapia celular, que também parece ser mais benéfica se administrada mais cedo após a lesão.
As terapias com células estaminais para a HIE foram estudadas em pelo menos 19 estudos pré-clínicos em animais, e foram lançados mais de uma dúzia de ensaios clínicos em humanos de terapia celular para a HIE3-7. O maior conjunto de provas provém de estudos de terapia celular para a HIE com as células estaminais mononucleares do sangue do cordão umbilical ou as células estaminais mesenquimais do tecido do cordão umbilical.
A maioria dos ensaios clínicos para HIE e Paralisia Cerebral destinam-se ao tratamento de crianças pequenas. Este caso demonstra a segurança e eficácia da terapia com células estaminais para uma criança diagnosticada com HIE acompanhada de atrofia do nervo ótico.