A Diabetes continua a ser um dos maiores desafios para a saúde pública, impondo às pessoas afetadas uma rotina de monitorização constante, tratamentos medicamentosos e o risco permanente de complicações como doenças renais, vasculares ou, até, de visão. Neste contexto, a investigação em terapias regenerativas, nomeadamente as que envolvem células estaminais mesenquimais derivadas do cordão umbilical, oferece uma perspectiva renovada.
Através de vários ensaios clínicos que aplicaram células estaminais mesenquimais derivadas do cordão umbilical em pessoas com diabetes tipo 1 e tipo 2, esta metaanálise (PMID: 39905688) mostrou que o tratamento com as células estaminais do cordão umbilical reduziu, substancialmente, a hemoglobina glicada (HbA1c) e que nos doentes com diabetes tipo 1 houve também uma diminuição na dose diária de insulina.
Estes resultados sugerem que as células estaminais mesenquimais derivadas do cordão umbilical não só podem contribuir para um melhor controlo glicémico como também para uma função pancreática mais eficaz.
Na verdade, os resultados são consistentes com uma revisão anterior (PMID: 34050823) realizada já em 2021 pela equipa da BebéVida, que focou especificamente o uso de células estaminais mesenquimais derivadas do cordão umbilical na diabetes tipo 2.
Essa revisão sistematizou os estudos préclínicos e clínicos e concluiu que estas células apresentam várias propriedades terapêuticas relevantes: origem relativamente fácil e segura, baixo risco de rejeição imunológica, e forte capacidade parácrina (isto é, libertação de fatores que estimulam a regeneração e modulam o sistema imunitário).
Com base no que se sabe até ao momento, percebe-se que as células estaminais do cordão umbilical podem atuar de forma dupla, regenerando tecidos e modulando o ambiente celular, ou seja, não se limitam a substituir células lesionadas, mas também atuam para reduzir a inflamação, melhorar a resistência à insulina e favorecer a microvasculatura.
Também a redução de HbA1c e da necessidade de insulina indica que estes tratamentos podem ultrapassar o simples “controlo” e entrar no campo da melhoria funcional. Já ao melhorar a questão funcional, esta abordagem parece impactar em causas estruturais da doença, o que pode ser considerado uma mudança de paradigma face à terapêutica convencional que, em grande medida, trata sintomas.
Mas, afinal, o que significa tudo isto para quem vive o dia a dia com diabetes?
Para quem convive com a doença, a ideia de uma terapia capaz de restaurar parte da função pancreática, reduzir a dependência de insulina ou mesmo atrasar ou prevenir complicações graves é muito mais do que mero controlo, é esperança de qualidade de vida superior.
Claro que não se está, ainda, perante uma “cura ou tratamento garantido”.
É importante gerir expectativas e apesar dos ensaios clínicos serem promissores, ainda estão em evolução, e aspetos como segurança a longo prazo, acesso, custo e standardização do tratamento ainda precisam de ser resolvidos.
Este é, de certa forma, um passo em direção à causa do problema, e não apenas à gestão dos sintomas.
Ainda assim, é fundamental lembrar que esta é uma nova fronteira da medicina, e que, até que a terapia se torne prática clínica acessível, nada substitui os tratamentos convencionais, o estilo de vida saudável, o acompanhamento médico e a monitorização regular.
Para quem vive com diabetes, o futuro pode vir a ser mais do que apenas “controlar o açúcar”: poderemos estar a caminho de “restaurar” mais funções do organismo. E já isto é motivo para um otimismo (ainda que cauteloso).
Artigo escrito por Andreia Gomes, Diretora Técnica e de Investigação e Desenvolvimento e Inovação da BebéVida


