Artigo escrito por: Dra. Andreia Gomes, Diretora Técnica e de I&D&I da BebéVida
A doença de Alzheimer é uma condição neurológica degenerativa que afeta milhões de pessoas em todo o mundo. É caracterizada por ser uma condição neurológica e o tipo de demência mais comum. Com o envelhecimento da população, estima-se que o número de casos aumente drasticamente nas próximas décadas. Apesar dos avanços na compreensão da doença, atualmente não existem tratamentos eficazes para retardar ou reverter seu curso. No entanto, uma área promissora de investigação envolve o uso de células estaminais do cordão umbilical, que demonstraram resultados encorajadores em estudos pré-clínicos e ensaios clínicos iniciais.
Doença de Alzheimer
A doença de Alzheimer é caracterizada por uma deterioração progressiva das funções cognitivas, incluindo memória, linguagem, raciocínio e tomada de decisões. À medida que a doença avança, os pacientes enfrentam dificuldades crescentes para realizar atividades diárias e eventualmente perdem a sua independência.
Cerca de 7 milhões de pessoas desenvolvem demência em todo o mundo a cada ano, e estima-se que, mundialmente, 46,8 milhões de pessoas tenham demência e que este número aumente para 131,5 milhões de pessoas até 2050. A demência afeta 1 em cada 20 pessoas com mais de 65 anos e afeta 1 em cada 5 pessoas com mais de 80 anos. A doença de Alzheimer é responsável por 50-60% dos casos de demência. Embora os mecanismos exatos que desencadeiam esta doença ainda não sejam totalmente compreendidos, acredita-se que múltiplos fatores, incluindo genética, inflamação, stresse oxidativo e disfunção mitocondrial, desempenhem um papel importante.
Tratamentos Atuais e Limitações
Atualmente, os tratamentos disponíveis para a doença de Alzheimer são principalmente sintomáticos e visam atrasar a progressão dos sintomas cognitivos e comportamentais. Os medicamentos mais comumente prescritos são: inibidores da colinesterase (ajudam a aumentar os níveis de acetilcolina, um neurotransmissor importante para a memória e o pensamento) e memantina (regula os níveis de glutamato).
No entanto, estes tratamentos têm efeitos limitados e não conseguem interromper ou reverter o processo subjacente da doença. Além disso, eles podem causar efeitos indesejáveis, como náuseas, vómitos, diarreia e fadiga.
A Promessa das Células Estaminais do Cordão Umbilical
As células estaminais do cordão umbilical apresentam propriedades únicas, incluindo a capacidade de se diferenciar em vários tipos de células e de produzir fatores bioativos que podem modular o microambiente celular.
Mecanismos Potenciais de Ação
Estudos pré-clínicos da doença de Alzheimer sugeriram vários mecanismos pelos quais estas células estaminais do cordão umbilical podem exercer efeitos benéficos tais como redução das placas amiloides, proteção contra a neurotoxicidade, estimulação da neurogénese e modulação da inflamação uma vez que as propriedades anti-inflamatórias das células estaminais do cordão umbilical podem ajudar a reduzir a inflamação crónica observada na doença de Alzheimer.
Esses mecanismos sugerem que as células estaminais do cordão umbilical podem abordar múltiplos aspetos da patologia da doença de Alzheimer, em contraste com os tratamentos atuais que visam apenas um alvo específico.
Ensaios Clínicos com Células Estaminais do Cordão Umbilical
Motivados pelos resultados promissores dos estudos pré-clínicos, vários ensaios clínicos foram conduzidos para avaliar a segurança e a eficácia das células estaminais do cordão umbilical no tratamento da doença de Alzheimer.
Um ensaio clínico de fase I, realizado na Coreia do Sul, envolveu a injeção intracerebroventricular repetida de células estaminais do cordão umbilical em nove pacientes com doença de Alzheimer leve a moderada. Os resultados mostraram que o procedimento foi viável, relativamente seguro e bem tolerado pelos pacientes. No entanto, todos os participantes desenvolveram febre transitória e aumento da contagem de glóbulos brancos no líquido cefalorraquidiano nas primeiras 24 horas após cada injeção. Esses efeitos foram interpretados como uma possível reação imunológica às células estaminais transplantadas e destacaram a necessidade de estratégias para mitigar essas respostas em estudos futuros.
Atualmente, ensaio clínicos de fase II estão também em andamento, em que os resultados preliminares sugerem que as células estaminais do cordão umbilical podem reduzir os níveis de biomarcadores da doença de Alzheimer. No entanto, os efeitos clínicos sobre a cognição, o comportamento e a capacidade funcional ainda precisam ser avaliados cuidadosamente. Os investigadores também estão a estudar estratégias para prolongar a sobrevivência das células estaminais transplantadas e maximizar seus efeitos terapêuticos.
Desafios e Considerações Futuras
Embora os resultados iniciais sejam promissores, ainda existem vários desafios a serem superados antes que a terapia com células estaminais do cordão umbilical possa ser amplamente adotada no tratamento da doença de Alzheimer.
É essencial conduzir estudos de acompanhamento a longo prazo para avaliar a segurança das células estaminais do cordão umbilical em pacientes com doença de Alzheimer. Possíveis riscos, como reações imunológicas persistentes ou efeitos colaterais inesperados, precisam ser cuidadosamente monitorizados.
Combinação com Outras Terapias
Como a doença de Alzheimer é uma condição complexa com múltiplos fatores envolvidos, pode ser benéfico combinar a terapia com células estaminais do cordão umbilical com outras abordagens terapêuticas, como medicamentos, imunoterapia ou estimulação cognitiva. Essas combinações podem potencializar os efeitos benéficos e abordar diferentes aspetos da doença.
Perspetivas Futuras
Apesar dos desafios, a investigação com células estaminais do cordão umbilical representa uma área promissora no tratamento da doença de Alzheimer. Com avanços contínuos na compreensão dos mecanismos subjacentes, esta abordagem pode eventualmente levar a terapias mais eficazes e personalizadas para pacientes que padecem desta condição devastadora.
À medida que mais ensaios clínicos são realizados e os resultados são analisados, espera-se que a comunidade científica obtenha insights mais profundos sobre o potencial terapêutico das células estaminais do cordão umbilical na doença de Alzheimer.